terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Natal?!















NATAL?

Outro Natal... E a vida continua
igual... Ou bem pior do que era antes...
Na estrada, tanta jovem semi-nua...
Nos morros, manda a voz dos traficantes.

Não poucos, têm por teto a luz da lua...
Nos hospitais, as filas são constantes...
O trânsito é uma guerra, em plena rua...
A paz perdeu-se em mãos dos assaltantes.

Vivemos, da violência, prisioneiros,
por governantes, vis aventureiros...
Jesus renascerá na insanidade?

Êle há de retornar a este mundo,
onde a discórdia habita o mais profundo,
onde inexiste o agir da boa-vontade?

- Patricia Neme -

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Soneto I (Paulo Bonfim)













Soneto I

Venho de longe, trago o pensamento
Banhado em velhos sais e maresias;
Arrasto velas rôtas pelo vento
E mastros carregados de agonias.

Provenho dêsses mares esquecidos
Nos roteiros de há muito abandonados
E trago na retina diluídos
Os misteriosos portos não tocados.

Retenho dentro da alma, prêso à quilha
Todo um mar de sargaços e de vozes,
E ainda procuro no horizonte a ilha

Onde sonham morrer os albatrozes...
Venho de longe a contornar a esmo
O cabo das tormentas de mim mesmo.

(Paulo Bonfim)

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Numa Tarde de Chuva
























NUMA TARDE DE CHUVA

Cai uma chuva fina e sonolenta,
dessas que custam...custam...a passar,
e nesta tarde baça e friorenta,
chega até dar preguiça de pensar...

Até minha alma parece cinzenta
- cinzenta e fria... Como versejar
nesta apatia, se o que mais me tenta
é a minha cama, ali, a me chamar?...

Melhor deixar pra lá a poesia
e entre os meus cobertores ir tentar
me aquecer... dormir... talvez sonhar...

- Sonhar com um céu azul de um lindo dia,
onde entre luzes, cores - pelos ares -
revoem versos, rimas e cantares!....

(Eloah Borda-D.A.Reservados)

sábado, 24 de outubro de 2009

Amor-perfeito




















Amor-perfeito
(para AJ)

A mesa posta, em linho e prataria...
As velas... Não! Bastava-me o luar.
Nas taças de cristal, minha alegria...
Com rosas, demarquei o teu lugar.

Vesti-me rendilhada de poesia,
em meu cabelo, estrelas a brilhar.
Fiz do cio da noite a melodia,
para nossos sonhares embalar.

E o tempo foi tecendo seus segundos...
Em doces ilusões, percorri mundos,
onde um amor-perfeito floresceu.

Porém, nunca ocorreu tua chegada...
E agora, alcanço o fim da caminhada
sem conhecer o amor que julguei meu!

- Patricia Neme

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Homenagem a Mercedes Sosa











Mercedes Sosa

Se fue "La Negra", la de voz más bella
que San Miguel de Tucumán nos dio
- la que se hizo la voz de su gente,
voz de su pueblo, "voz de los sin voz".

Voz que se ha erguido contra dictadores,
en tiempos de una dura represión,
cantando la aflicción y los clamores,
de los yugados por la opresión.

También cantó costumbres de su tierra,
cantó el amor, la vida, la esperanza
- emocionando nuestros corazones.

Pero se fue, se fue Mercedes Sosa,
se fue y llevó su voz maravillosa,
para en el cielo aún entonar canciones

(Eloah Borda)

domingo, 4 de outubro de 2009

Soneto em Dor Maior




















SONETO EM DOR MAIOR

O amor que eu me desejo, tem cheiro de alvorada,
tem cor de lua cheia, nas brisas de jasmim...
Amor que me incendeia nos sons da madrugada
e tece com estrelas, os sonhos que há em mim.

O amor que eu tanto espero, tem boca apaixonada,
seu coração galopa por meu começo e fim;
me entrega seus silêncios, su’alma desnudada...
É beija-flor imerso, na flor do meu jardim!

O amor dos meus cantares, de rimas passionais,
é puro qual o orvalho, tão vasto quanto o mar,
não anda por atalhos, seu rumo é só me amar.

Que venha em vôo breve, dos céus dos imortais,
e então a vida eu sinta, com todo o seu ardor...
E olvide a Dor Maior, que jurei, fosse o amor!

Patrícia Neme

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

Superação




















SUPERAÇÃO

Chorar por que, se é inútil o meu pranto,
se ele nada constrói, nada resgata,
não cura o desamor, o desencanto,
e os laços do destino ao desata?...

Chorar por que, se com meu verso e o canto,
eu posso amenizar a sorte ingrata
- vestir de Euterpe o irisado manto,
seguir sorrindo, solidária e grata?

Por mais limites que me imponha a vida,
por mais que insista a lágrima contida,
no meu caminho, igual prosseguirei.

Catando o escasso em busca de infinitos,
com os pés magoados, mas os olhos fitos
na chama azul da estrela que inventei...

Téia Borda de Lima

(Todos os direitos reservados à autora)

quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Elegias















ELEGIAS

Foi tanto bem-querer, tanta afeição,
tanta admiração, tanto carinho,
que o amor foi se achegando e, de mansinho,
tomou conta de mim, se fez paixão.

E, louca, eu me perdi nos teus caminhos,
e foi tanto sonhar, tanta ilusão,
e tanto o engano, a idealização,
que só vi flores onde havia espinhos....

Porém a realidade impôs-se, e enfim,
arrebatou-me o véu da fantasia
- fez-me te ver como és... Mas, mesmo assim,

meu tolo coração (que ainda é teu),
te chora em versos, compondo elegias,
saudoso da mentira em que viveu...

(Eloah Borda-D.A.Reservados)

Vaidade



















VAIDADE

Sonho que sou a Poetisa eleita,
Aquela que diz tudo e tudo sabe,
Que tem a inspiração pura e perfeita,
Que reúne num verso a imensidade!

Sonho que um verso meu tem claridade
Para encher todo o mundo! E que deleita
Mesmo aqueles que morrem de saudade!
Mesmo os de alma profunda e insatisfeita!

Sonho que sou Alguém cá neste mundo...
Aquela de saber vasto e profundo,
Aos pés de quem a Terra anda curvada!

E quando mais no céu eu vou sonhando,
E quando mais no alto ando voando,
Acordo do meu sonho...E não sou nada!...

Florbela Espanca

Elegia Gitana




















ELEGIA GITANA

No rodopio, pés beijando a terra,
eu me desnudo de toda razão;
meu peito é o campo, onde o viver se encerra...
E a flor é o fruto de minha emoção.

Eu danço a vida, danço a paz e a guerra,
danço os acordes de intensa paixão.
Danço a saudade, que meu ser desterra
ao mundo escuro da desilusão.

Sons de violino, noite constelada,
a lua tece em prata tênue estrada...
Uma fogueira... E o amor me incendeia.

E do infinito, crio a nossa tenda,
o eterno êxtase a nós se desvenda...
Em nossos corpos o prazer campeia!

- Patrícia Neme -


(Todos os direitos reservados à autora)